Alguns sons passam logo, velozes, não dá tempo de misturar-se a eles. Outros, diferente, já permanecem por mais tempo, no espaço, enquanto não encontram todos os lugares vazios.
Que neste Ano Novo, crianças procurem sons em nossas palavras. Usarei, neste breve artigo, uma linguagem mais direta. Quero contar uma história. E este espaço me permite contá-la. Tornei-me pai há pouco tempo. A paternidade exige de nós uma série de responsabilidades. Todo dia uma novidade. A criança está descobrindo o mundo, a si mesma, as pessoas com as quais convive e encontra cotidianamente.
Logo que saí de férias escolares, decidi caminhar todas as manhãs com o Lucas. Os olhares, os gestos mais puros, os sorrisos sem pretensão, o abraço gratuito, o toque sutil e terno. Como gosto muito de música, de poesia, me deixo encantar pela beleza das palavras, sempre quando posso, eu canto para o Lucas ouvir. Ele adora os sons, ele os procura, corre atrás deles, deleita-se quando os encontra. Alguns sons passam logo, velozes, não dá tempo de misturar-se a eles. Outros, diferente, já permanecem por mais tempo, no espaço, enquanto não encontram todos os lugares vazios. A música preenche os espaços vazios, da casa, do coração, do ser.
Hoje, 5 de janeiro, o Ano Novo chegou apressado, cantava baixinho Meu Bem Querer, do músico alagoano Djavan, para meu filho. Fui surpreendido quando ele começou a tocar-me os lábios, procurando o som, tentando apalpá-lo, sorrindo quando conseguia alcançar a doçura das palavras, apressado para não perder uma sílaba, um fluido, um verso… A vida reserva surpresas diárias! E toda vez que algo novo é descoberto uma chance de viver bem se apresenta sem falsas promessas ou fantasias. Em um cenário de palavras técnicas demais, frias demais, desencantadas, objetivas, moralistas, infames, desonestas, ainda restam sons nas palavras. Feliz 2016!
Luís Carlos Pinto
Foto: Reprodução/ internet