Por Pe. Salomão Rafael Gomes Neto
Presbítero da Diocese de Guanhães
Eu sou o belo (bom) Pastor (cf.:Jo10,14). Confesso que essa é uma das expressões de Jesus que nos intrigou por um bom tempo. Isso porque em diversas passagens das Sagradas Escrituras – poderíamos dizer passagens “anteriores” – Jesus nos é apresentado como o Cordeiro.
Talvez a frase mais célebre que possa exemplificar isso é a fala do profeta e João Batista que disse: “Eis o Cordeiro de Deus” (cf.: Jo 1,29). Ainda numa perspectiva primária poderíamos nos perguntar: quem é o cordeiro senão aquele que é o menor do rebanho e talvez por isso mesmo o mais frágil, o que mais requer carinho e cuidado?
Hoje a situação é diferente… após muito rezar e meditar sobre essa palavra é que chegamos à conclusão de que é justamente por isso mesmo que Jesus pode dizer que é o Bom (Belo) Pastor, pois para ser um pastor tão caloroso, carinhoso e cuidador do rebanho a ponto de escutar, entender suas ovelhas, saber das necessidades mais vitais de cada uma delas e amá-las a ponto de dar a vida por SUAS ovelhas só é possível porque Ele se fez por primeiro uma ovelhinha, um cordeiro.
Aqui se encontra o sentido: “Ele armou sua tenda em nós” (cf.: Jo 1,14). Somente quem tem um coração de ovelha pode saber o que as ovelhas realmente precisam. No salmo 22(23) nos diz que o verdadeiro Pastor nos conduzirá às Águas límpidas e prados verdejantes, além de lhe dar conforto, segurança e proteção, ou seja, tudo o que uma ovelha deseja.
De fato, hoje compreendemos que só se pode ser verdadeiramente um bom pastor quem teve uma vida junto as ovelhas e Jesus é realmente assim: ”Igual a nós em tudo… exceto no pecado” (cf.: Hb 4,15).
Fico a imaginar a alegria das pessoas a quem Jesus se dirigia quando ele pronunciava essas palavras. Fico a imaginar o sentimento de contentamento e de conforto que pairava nessas pessoas. Mas fico a imaginar, sobretudo, o sentimento de ESPERANÇA: temos alguém a que cuida de nós e que nos aponta um caminho a seguir, que se faz o caminho a prosseguir (cf.: Jo 14-6).
Hoje, nesses últimos dias, com a eleição do novo Papa (Leão XIV), por tudo aquilo que vivemos e por tudo aquilo que foi a sua vida até ele chegar nesse momento, penso que devemos recobrar os mesmos sentimentos em nós: pois o Papa Leão XIV tem feito o mesmo percurso: antes de se tornar um Pastor se fez conhecedor da vida das ovelhas.
Alguém que teve por missão trabalhar em locais de dificuldades grandes, como é a vida de muitos de nós; que por sua função de Prior da ordem agostiniana, que ocupou por tanto tempo; conheceu, experimentou, realidades do mundo inteiro: viajou muito e sentiu de perto a realidade da ordem a quem pertencia, mas ao mesmo tempo, e sobretudo, sentiu a realidade das pessoas, das ovelhas, destes lugares.
Hoje é Papa, é nosso Papa e nosso Pastor! E por suas primeiras palavras dá para perceber que ele sabe o caminho “das águas tranquilas e dos prados verdejantes” que a humanidade busca, mas mais que isso ainda, por suas primeiras palavras nos mostra que como Jesus ele está disposto a dar sua vida por estas ovelhas que são do próprio Jesus, mas como outrora Pedro, no amor, ele é convidado a pascentar (cf.: Jo 21, 15-17).
Estamos no Jubileu da Esperança, e os primeiros gestos do Papa Leão XIV, renova em nós essa Esperança de um mundo novo e melhor onde a Paz tão almejada por todos é o anúncio primeiro de alguém que “tem o cheiro das ovelhas” (Papa Francisco, em homilia, na missa do Crisma em 28/03/2013) porque busca os mesmos ideais do Bom Pastor.
O acolhemos com amor e asseguramos nossas orações para que seja um sinal do Belo e Bom Pastor, Jesus.