SOFRER COM O OUTRO
Reflexão para o Momento Mariano dos seminaristas de Diamantina
“Sejamos sensíveis ao sofrimento do próximo!”
Pelo sinal…
Caríssimos Irmãos,
Após o anúncio do arcanjo, Maria se depara com um mistério que estava muito além de sua compreensão. Entretanto, embora não compreendendo, ela foi capaz de crer e confiar na graça operante de Deus. E é esta mesma capacidade que a impulsiona a fazer de sua vida a de seu filho, estando sempre ao seu lado em diversas circunstâncias. E isso foi vivido de maneira tão radical que nos últimos instantes de vida do Senhor, lá estava ela, caminhando com ele até o calvário, culminando com ela de pé, aos pés da cruz.
Como Mãe da Igreja, Maria é modelo dos que foram incorporados a Cristo pelo batismo. Ao sermos chamados pelo nome, o Divino Mestre nos convida a vivermos em função dele, assim como fez sua mãe, de forma irrestrita, especialmente na pessoa do irmão. E se queremos abraçar verdadeiramente a vocação sacerdotal, não podemos perder de vista este ponto: enxergar no outro o mesmo Cristo que um dia falou ao nosso coração como falou a Mateus: “Segue-me!”.
Mediante isso, assim como Maria não se manteve indiferente ao sofrimento de seu filho, assim também a dor de nosso próximo não nos pode parecer trivial. Em hipótese alguma a fome, a corrupção, a violência e tantos outros males que reduzem a dignidade do homem nos devem parecer alheias. Parece até um pleonasmo, mas deve doer em nosso coração a dor de nossos irmãos da mesma forma que no coração de Maria foi sentida a morte de Jesus.
Num mundo tão egoísta e insensível como o nosso, dominado pelo individualismo e pelo utilitarismo, corremos o grave risco de fecharmos os nossos olhos para a realidade ou até mesmo nos acostumarmos com o mal. Isso nos deixa mornos no amor e nos arranca da realidade, nos conduzindo para um mundo abstrato em nossas mentes onde isso tudo parece distante de nós, mesmo estando tão perto.
O amor de Maria por seu Filho é a expressão mais palpável do amor materno com que Deus nos ama, por isso supera e significa o sofrimento. É com este mesmo amor que devemos alimentar em nossos corações, um amor inquieto, um amor que não tolera a injustiça, que nos leva a agir com misericórdia. É necessário uma cultura do compromisso e da disponibilidade para assim combatermos a cultura do indiferentismo. Guardemos em nosso coração: Se fomos criados à imagem e semelhança de Deus, a indiferença nos desfigura, pois nos opõe ao seu amor.
Diante da cena do calvário, nos deparamos com diversos tipos de pessoas: curiosos, zombadores e blasfemadores. Estes também se fazem presentes nos nossos dias. Quantas pessoas, que diante do sofrimento do próximo apenas se achega, curiosamente, recolhe informações e se vai? Quantas não são as pessoas que fazem da dor motivo de piada e mais quantas que, julgando-se sinônimos de perfeição, acham-se no direito de serem juízes do outro, de ofender a sacralidade da pessoa por ela estar em uma determinada situação? Eis que a trave da ignorância lhes impede de ver o Cristo crucificado diante delas.
Entretanto, neste cenário de pura maldade que havia no momento da crucificação, lá estava Maria. Eis a chama do amor que crepita em meio ao mal. Assim, também, somos nós convidados a sermos sinais de amor diante do mal e do sofrimento; a sermos luz em meio à escuridão, por mais que as sombras parecem ser mais fortes.
Quando observamos o avanço das trevas, corremos o perigo de perdermos a fé e a esperança da vinda de dias melhores. Aqui também nos fazemos alunos na escola de Maria, mulher que creu e confiou quando tantos não fizeram. Em seu coração, transpassado pela espada de dor, estava acesa a chama da fé. Ela não se conformava que Deus deixaria acabar ali a obra começada.
Assim devemos ser, caríssimos: por mais que pareça difícil, devemos manter viva em nós a chama da fé, para que ela nos guie em meio às sombras. Devemos nos inquietar com as injustiças e com as mazelas deste mundo e confiar na ação de Deus. Ação para a qual quis Ele contar conosco, na disposição de servi-lo com generosidade de coração para juntos ‘fazer acontecer aqui o Seu Reino’.
Ó Maria, ajudai-nos a sermos compassivos diante das necessidades do nosso próximo. Que não sejamos indiferentes às suas dores e necessidades, mas que sejamos movidos pela mesma compaixão que sentistes ao acompanhar os últimos instantes de vida de nosso Senhor Jesus Cristo. Que sejamos sensíveis ao sofrimento do próximo. Amém.
Sílvio Souza Gomes,
seminarista