“E como o ciclo natural de tudo o que é existente, o mundo também vai virar pó. Pode ser daqui a algumas décadas ou bilhões de anos, ou, para ser mais preciso, pode ser hoje mesmo. Mas pouco me importa. Não sobrará ninguém para dizer que eu estava certo. Tenho a convicção de que não será como um dilúvio, a explosão do sol, ou algo parecido. Nós mesmos vamos dar fim a isto tudo. Depois da bomba atômica e da pandemia só fiquei em dúvida se não seria muito em breve”
Parece absurdo que quase ao término da teologia se faça uma declaração como estas: o que ainda não foi dito sobre Deus? Diante de uma chuva de informações a qual somos bombardeados torna-se evidente que nutrir uma experiência profunda de Deus é a melhor vacina contra as imagens equivocadas que se propagam por aí, sobretudo a de que Deus seja favorável a guerra. Por isto quis iniciar com esse relato apocalíptico, no sentido mais estrito do termo, afim de revelar que nos períodos de maiores incertezas da humanidade sempre emergiram profetas do caos e literatura deste tipo. Quantos não vociferam calúnias contra Deus a despeito dos males que se abatem sobre nós? Pandemia, conflito entre países, afinal, de quem é a culpa?
Esta é a pergunta que paira no existencial da história humana, a contar pela narrativa de Adão e Eva que personifica a ação impensada de muitos, que ao invés de solucionar crises, superar conflitos, procuram responsabilizar terceiros sem devido exame de consciência. Assim, a guerra em última análise não passa de uma escolha equivocada, porque fere aquele princípio, segundo o qual, fomos criados para viver em harmonia. Nunca é demais, portanto, dizer daquilo que é uma convicção fundamental de nossa fé: o amor de Deus ultrapassa nosso entendimento. Claro, isso não significa nem justifica procrastinação epistemológica. Muito pelo contrário, o desejo de Deus permanece latente em nós e exige, por sua própria força, uma experiência pessoal a partir da qual comprometer-se com a vida do irmão torna-se um desafio que supera todo e qualquer conflito. É este imperativo que determina as relações humanas em seus mais distintos níveis de experiência. E que o papa conclama naquelas palavras: a unidade prevalece sobre o conflito.
Então, é inadmissível que o amor dê lugar ao ódio, que o Reino de Deus seja sucateado pela tirania da violência e que se busque respaldo bíblico para justificar o sofrimento. Talvez nas atuais circunstâncias a que chegamos haja motivos muitos para a suspeita de que estamos nos fins dos tempos. Mas nunca o de se esperar que a ruína de um povo, uma nação ou um país seja desejável aos olhos de Deus. E se teu juízo a despeito deste fato seja contrário, não falamos do mesmo Deus.
Enfim, só quem faz uma experiência além do que é dito pode compreender quem Deus é, porque se você sabe apenas o que te disseram sobre Deus, talvez ainda não O tenha conhecido!
Por Gabriel Ferreira Oliveira,
seminarista