No 1º Domingo da Quaresma (Ano C), repensamos nossas opções de vida, tomando consciência das tentações que nos impedem de viver a vida nova que um dia recebemos em nosso Batismo.
A passagem da primeira Leitura (Dt 26,4-10) retrata a tentação do Povo de Israel de ceder à idolatria, adorando falsos deuses. É preciso que eliminemos os falsos deuses que nos afastam do verdadeiro Deus, do contrário, as marcas do orgulho, da autossuficiência, do egoísmo, da desumanidade, da desgraça e da morte, deixarão suas marcas.
Essencialmente é um texto anti-idolátrico, em que anuncia a vida e felicidade somente encontrada em Deus. A tentação do abandono do Senhor para adoração das divindades das populações da nova terra, das divindades da Natureza, é um constante perigo.
Encontramos neste trecho uma solene profissão de fé, inserida numa Liturgia de Ação de Graças pelos dons da terra e a oferta das primícias dos frutos das colheitas; possibilitando-nos refletir quais são os falsos deuses que podem tomar o lugar do Deus vivo e verdadeiro: o dinheiro, o poder, o êxito social ou profissional, a ciência ou a técnica, os partidos, líderes e suas ideologias ou quaisquer outras coisas que se sobreponham a Deus e até mesmo que levem a d’Ele prescindir.
Reflitamos:
– Quando se prescinde de Deus que futuro é reservado para a humanidade?
– Quais são os deuses da pós-modernidade que seduzem e afastam a pessoa do encontro e relação com o Verdadeiro Deus da Vida, que a Sagrada Escritura nos apresenta?
Na passagem da segunda Leitura, (Rm 10, 8-13), o Apóstolo Paulo nos fala da Salvação como dom de Deus e compromisso nosso.
A salvação não é uma conquista humana, mas dom gratuito de Deus que, na Sua bondade, quer salvar a todos. Também afirma que o Evangelho de Jesus é a força que congrega e salva aquele que crê (judeus e pagãos), pois Deus quer salvar a todos, indistintamente (v. 11-12);
Reflitamos:
– Quais são as divisões existentes em nossas famílias e comunidades? O que as provocam?
– Como tornar nossa comunidade mais fraterna, mais próxima do que Jesus quer para Sua Igreja?
– Como tornar, de fato, a comunidade um lugar da adesão à fé na pessoa de Jesus?
A passagem do Evangelho (Lc 4, 1-13) retrata de forma catequética, e não de forma jornalística, as tentações enfrentadas por Jesus no deserto (deserto como lugar da privação, dos desafios, da tentação): ter, poder e ser, que são as tentações fundamentais de toda pessoa.
A primeira tentação é um não à riqueza/acúmulo, a segunda um não ao poder/dominação e a terceira um não ao êxito fácil.
Jesus recusou terminantemente o caminho do materialismo (poder, domínio, êxito fácil), do contrário, trairia o Plano de Deus, que se realiza pela partilha, serviço e doação da própria vida com simplicidade e amor.
Os discípulos missionários de Jesus devem fazer o mesmo caminho por Ele vivido e proposto: o egoísmo cede lugar para a partilha; o autoritarismo para o serviço; o espetáculo/sucesso para a vida plena.
O discípulo missionário terá que decidir entre a obediência ao Pai e o serviço ao próximo ou a sedução às tentações.
Aqui devem ser lembradas as palavras do Bispo Santo Agostinho: –“Como vencer se não combater, como combater se não formos tentados. Se n’Ele somos tentados, com Ele também venceremos” E ainda: “O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar – se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação”.
Com o Pão da Palavra e com o Pão da Eucaristia, podemos vencer quaisquer tentações que venham a nos afastar do Projeto de Vida que Deus tem para nós. Se alimentados por Deus, vencemos; do contrário, sucumbimos e perdemos a alegria e o sentido do próprio existir.
As tentações enfrentadas por Jesus não são uma página virada, mas um desafio a ser vivido e enfrentado por todo aquele que deseja segui-Lo, ontem, hoje e sempre.
Reflitamos:
– De que modo estas tentações se manifestam hoje nos espaços em que vivemos, dentro e fora da Igreja?
– Nesta Quaresma, como nos alimentarmos melhor da Palavra e da Eucaristia?
Dando os primeiros passos no itinerário Quaresmal, entremos com Jesus na travessia do deserto de nossa vida.
Acolhamos, pois, a Salvação como dom de Deus, dando nossa resposta com liberdade, responsabilidade e maturidade, pois nisto consiste a vida cristã: corresponder cada vez mais e melhor aos desígnios de Deus e ao Seu Projeto de Amor, dando a Deus e ao nosso próximo o melhor que podemos.
É preciso revitalizar a fé, quotidianamente, para que não sucumbamos às tentações que nos afastem do Projeto Divino. É preciso viver uma fidelidade límpida, superando toda infidelidade à Palavra de Deus, rompendo com o pecado, como criaturas novas pela graça batismal.
Jesus venceu as tentações para nos ensinar também a vencê-las. Com Ele, e somente com Ele, faremos a travessia do deserto, alcançando a outra margem, no encontro definitivo.
Vivendo a cada dia a configuração ao Senhor, em Sua Vida, Paixão e Morte, com renúncias necessárias, desapego de si mesmo, tomando a cruz de cada dia, com Ele também Ressuscitaremos.
Ao rezar o “Pai Nosso”, façamos com mais ardor esta súplica: “… O Pão nosso de cada dia nos dai hoje…” “… e não nos deixeis cair em tentação”.
Alimentados pelo Pão da Palavra e da Eucaristia, e somente assim, podemos vencer as tentações que impeçam o Reino de Deus acontecer, como também a verdadeira santificação do nome de Deus.
Oremos:
“Dai-nos força para resistir à tentação, paciência na tribulação,
e sentimentos de gratidão na prosperidade. Amém.”