A Liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum (ano A) tem como tema principal a subordinação de nossa existência a Deus, num compromisso efetivo com o mundo novo.
É preciso entregar nossa existência nas mãos de Deus que é o Senhor da história (Is 45,1.4-6). Somos instrumentos preciosos em Suas mãos, porque assim Ele o quis.
O Profeta Isaías fala de um momento muito importante na história do Povo de Deus, ou seja, o final do Exílio, entre 550 e 539 a.C.
O texto que meditamos pertence ao “Livro da Consolação”. Nesta passagem, o Profeta nos fala da ação de Ciro possibilitando que o Povo de Deus retorne a sua terra. Por desígnio de Deus, o libertador é um rei estrangeiro.
Deus não hesita em suscitar um “messias estrangeiro”, um rei persa que adora outros deuses. Nem por isto o povo deverá adorar “Marduk” (ídolo dos povos babilônicos), mas deverá manter e crescer em sua fé e fidelidade a Javé.
Ciro é um instrumento para que Deus atue no mundo e na História. Muitas vezes parece que Deus está distante, mas o Profeta revela a presença, a ação e a intervenção divina.
Deus jamais Se faz indiferente e passivo frente à nossa história. É preciso nos entreguemos em Suas mãos e compreendamos a Sua lógica. Deus age por meio de nós, apesar de não merecermos, apesar de nossas fraquezas ou até mesmo por causa delas. Ele é totalmente livre para chamar a quem bem quiser.
Reflitamos:
– Como nos tornarmos preciosos instrumentos na mão de Deus?
– Nossas comunidades são abertas a ação do outro?
– Respeitamos a liberdade da ação divina?
– Sabemos valorizar os instrumentos por Deus escolhidos?
Na segunda Leitura (1Ts 1,1-5b), o Apóstolo Paulo se dirige à comunidade de Tessalônica; uma comunidade numerosa, entusiasta e formada por pagãos convertidos.
Apesar das perseguições e provações, ela deve progredir na fidelidade ao Evangelho, convertendo-se em alguns aspectos, todavia encontra nela as virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade.
A comunidade não caminha à deriva e condenada ao naufrágio, e o Apóstolo tem consciência de que a formação doutrinal da comunidade ainda ficou a desejar quando por ela passou.
A comunidade é pela vivência das virtudes, um retrato vivo interior da jovem nascente Igreja:
Fé: adesão ao Evangelho em constante conversão e transformação. Reconhece nela uma fé ativa, que não a acomoda e tão pouco permite evasão de reais compromissos.
Esperança: uma comunidade que seja firme, marcada pela entrega, partilha e doação. Biblicamente falando, manter acesa a chama da esperança, mesmo quando ela parecer não existir, em meio às dificuldades, perseguições, incompreensões.
Caridade: uma comunidade que se esforça para viver o amor, efetivamente, pois quem ama empenha-se em fazer sempre o melhor para Deus e pelo próximo.
Renovemos aprofundemos nosso entusiasmo e empenho na evangelização, apesar de encontrarmos hostilidades, dificuldades, provocações e incompreensões.
Reflitamos:
– Quais são os testemunhos de Fé, Esperança e Caridade que estão ao nosso lado? É preciso que em nossas comunidades vejamos a presença amorosa de Deus no outro.
– Alegramo-nos e sabemos glorificar a Deus pelo bem que o outro faz em nome da fé, sobretudo por meio da mesma fé que professamos, na mesma comunidade em que vivemos?
Na passagem do Evangelho (Mt 22,15-21), mais uma vez Jesus está diante de seus opositores (dirigentes judeus, herodianos e saduceus).
Encontra-se em Jerusalém, aonde vai se desenrolar o confronto final entre Ele e o judaísmo.
Depois das Parábolas que Ele dirigiu aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, as autoridades procuram um pretexto para matá-Lo. Preparam-lhe uma armadilha: é lícito compactuar com um sistema de exploração? É lícito ou não pagar tributos ao Imperador de Roma?
A conclusão a que se chega é que se deve contribuir para o bem comum, mas tendo Deus como único Senhor.
O Homem sendo imagem de Deus somente a Ele pertence. Deus é seu único Senhor (Gn 1, 26-27). Logo “Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”: a César o tributo. Mas a Deus, a vida do Povo. Jesus dá a entender que pagar o tributo à autoridade imperial é lícito, entretanto o que mais Lhe interessa é que seja dado a Deus aquilo que Lhe pertence: a vida do povo.
Assim como na primeira Leitura, no Evangelho há uma mensagem transparente: os grandes da terra devem se colocar a serviço dos pequeninos, glorificando o verdadeiro Senhor.
Reflitamos:
– E, como devolver a Deus um povo sem vida, abandonado, famélico?
– Qual a alegria que sentimos como discípulos em saber que a nossa glória consiste em a Deus pertencer, adorando-O e o servindo na pessoa do outro?
Para Jesus a submissão deve se dar única e exclusivamente a Deus. O homem e a sua vida pertencem a Deus. É preciso, portanto, redescobrir a centralidade de Deus em nossa existência, pois não há felicidade sem Deus.
Somos imagem de Deus, e a Ele pertencemos, de modo que nos perguntamos:
– Como está esta imagem em cada criatura que convivemos?
– Reconhecemos no outro a imagem e presença de Deus?
– O que fazemos para regatar a dignidade do outro?
– Damos a César o que é de César e a Deus o que é de Deus?
Como discípulos missionários do Senhor não podemos nos omitir na construção de um mundo melhor; conquistando direitos e cumprindo deveres.
O compromisso com o novo céu e a nova terra, com o mundo futuro, não nos dispensa de compromissos irrenunciáveis no tempo presente. Portanto, a esperança é uma só: a esperança do céu se dá na construção de um mundo novo, a partir deste exato momento da história que vivemos, com renovados compromissos sociais e políticos.
Jamais devemos nos omitir na construção e promoção da cultura da vida, da dignidade, da paz, como instrumentos que somos nas mãos de Deus, pois a fé cristã não é evasão, alienação, fuga, o abrir mão de compromissos, muito pelo contrário.
Oremos:
Ó Deus Uno e Trino, que jamais abusemos do poder que nos é confiado, e que toda autoridade constituída sirva para o bem de todos, com a força do Espírito e conforme a Palavra do Verbo Encarnado, para que todos os povos Vos reconheçam como o único Deus a ser adorado, amado e servido. Amém!
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda
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