A 11ª edição do Mutirão Brasileiro de Comunicação – Muticom – aconteceu na cidade de Goiânia, capital de Goiás. Com o tema “Comunicação, Democracia e Responsabilidade Social” o evento refletiu sobre os caminhos e as perspectivas das relações entre a Igreja Católica, a sociedade brasileira e a cultura contemporânea, no campo da comunicação.
A Diocese de Guanhães foi representada pelo assessor da PASCOM Diocesana, Padre Bruno. Veja a seguir um trecho da entrevista dada por ele à Folha Diocesana:
FOLHA DIOCESANA: Qual a pertinência de um tema que trata sobre “Democracia e Responsabilidade Social” para um evento voltado para “comunicação”?
PADRE BRUNO: Nestes últimos tempos a ‘virada midiática’ promoveu transformações fortes sobretudo no campo social, político etc, democratizando a comunicação de modo que toda cidadão independente da sua classe social tem espaço para expor seu pensamento, anseios e opiniões. Junto dessa ‘virada midiática’ veio também mazelas, tais como a ‘Fake News’ e que influenciam na realidade social. Nas últimas eleições, tanto no Brasil como no exterior, houve influência no cenário político.
O problema da ‘Fake News’ não está na democratização da comunicação – conforme o jornalista Nilson Klava “todos com um celular na mão é um produtor de conteúdo” – mas sim o fato de que a comunicação é feita através de pessoas boas e/ou más. As pessoas boas divulgam verdade a partir de suas convicções e bom senso com opiniões sinceras e justas, as pessoas más ocupam este espaço com notícias falsas de forma agressiva e por vezes com intenção financeira. Querem polemizar e/ou lucrar e não tem compromisso com informar/ formar.
Os comunicadores devem trabalhar com compromisso social de modo que ajude as demais pessoas a se informar melhor e isso não se refere a quantidade mas a qualidade dos conteúdos. Por exemplo, o conteúdo da Folha Diocesana chega nos smartfone via whatsapp ou facebook a partir do link de nosso site e também chega ás pequenas comunidades que não dispõe de toda essa tecnologia. A missão da PASCOM é formar e informar também para a democracia.
FOLHA DIOCESANA: Foi dito que “junto dessa ‘virada midiática’ veio também mazelas, tais como a ‘fake news’”. Que outra “mazela” pode ser citada?
PADRE BRUNO: A ‘hiperiformação’ é, sem dúvida, mais uma destas mazelas. Há muita informação e pouca democracia pois deletamos aquilo de que não gostamos. Nos alimentamos em excesso de apenas um tipo de opinião e por vezes sem critério – haja vista Fake News – vivendo em uma bolha informacional. Democracia e revolução digital não funciona assim! A ‘hiperiformação’ também não realiza comunicação!
Aliás, o excesso de informação é uma realidade vertiginosa e nos torna indiferente com a necessidade alheia. Com isso eu perco o respeito pelo outro e assim o rotulo como amigo ou inimigo e me preparo para atacar, pois pensa diferente, ou me abastecer de coisas que eu quero ou concordo já que não exige muito do meu raciocínio e capacidade de síntese.
FOLHA DIOCESANA: Perante tais desafios como propôr um conceito de comunicação?
PADRE BRUNO: Informar é diferente de comunicar pois a informação é a mensagem, a comunicação é a relação, que é muito mais complexa. A comunicação toca, transforma, o outro. Não só muda a forma de pensar mas também o comportamento, isso é conversão – metanoia – forma de pensar que muda meu agir. A ‘Fake News’ e a ‘hiperiformação’ não dão espaço pra isso pois promovem o contrário: não toca mas agride, não muda mas deixa ainda mais obstinado, pois coisificamos, rotulamos, o outro sem espaço para o diálogo e troca de ideias possibilitando o amadurecimento do pensamento sobre determinado assunto. Comunicação deve nos fazer repensar nossas relações e a forma de nos comunicar com quem está ao nosso redor. Sem respeito mútuo a comunicação não acontece.
FOLHA DIOCESANA: Essa ‘virada midiática’ promoveu transformações também no modo de ser igreja?
PADRE BRUNO: A ‘virada midiática’ é um ‘ato fora da igreja’ promovido pela sociedade e que está modificando a forma de ação da igreja.
Desde 2002, com João Paulo II, já se fala da realidade digital na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais celebrado há 53 anos conforme proposto na “Inter Mirifica”, n. 18, do Concílio Vaticano II. Este ano o Papa Francisco abordou a temática: “‘Somos membros uns dos outros’ (Ef 4, 25): das comunidades das redes sociais à comunidade humana”. Em 2011 Bento XVI fala que essa revolução cultural desafia a Igreja a pensar com essa cultura digital. Na EG n 16 Francisco insiste na inculturação digital e a necessidade de a igreja ocupar esse espaço. O Brasil, por exemplo, é o país que mais usa redes sociais na América Latina. Se considerarmos todos os 209,3 milhões de brasileiros, seria como se cada um passasse pelo menos quatro horas apenas em redes sociais, todos os meses.
Parafraseando Luther King “o que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”, devemos ocupar as redes para humanizar as redes. A mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2014 orienta que o testemunho cristão neste ambiente não se dá tanto pelo bombardeamento de mensagens religiosas mas com o testemunho.
(Leia a entrevista na íntegra na edição de Agosto/2019 da Folha Diocesana)