Com a festa de Cristo Rei do Universo, encerra-se o último domingo do ano litúrgico “B”, dedicado a São Marcos. O 1º domingo do advento marca então o início de um novo ano litúrgico, onde acompanharemos, sob a perspectiva do evangelista São Lucas, a vida e a missão de Jesus.
Advento vem do verbo latino advenire que significa “chegar a” algum lugar. Representa, pois, a chegada de alguém. Como toda chegada esperada, o advento tem um toque especial, os sentimentos ficam aflorados. O clima natalino já reina, e com ele, reina também um clima afetuoso. Nossos grupos de reflexão se reunindo nas casas, respirando e aspirando amor, muitas vezes debaixo da chuva, amassando o barro com os pés descalços, como acontece nas comunidades rurais, ou se agrupando por ruas, como nas comunidades urbanas.
Pois bem, alguém está para chegar! A Igreja celebra essa chegada de uma maneira especial na liturgia. Os paramentos roxos são usados, não para indicar a penitência quaresmal, mas para demonstrar que há um clima de espera e, quando o esperado chegar, haverá júbilo. A Igreja, em sua sabedoria, organiza a liturgia de modo a criar esse clima de espera. Não se canta o glória nas Santas Missas, à exceção das solenidades; introduz a coroa do advento, com suas velas coloridas, para indicar algum sentimento eminente proposto pela liturgia da palavra, como a vigilância e a alegria; a sobriedade na ornamentação do presbitério, que indica que a alegria ainda não está completa; e assim por diante.
Como dito, o advento é este tempo de espera daquele que vem. Mas quem está para chegar? É aquele que vê o sofrimento do seu povo e desce para libertá-lo, aquele que ouve os clamores, que é próximo do seu povo (Cf Gn. 3). Sim, só um Deus apaixonado é capaz de descer. Aliás, todos os verbos empregados demonstram este amor incondicional: descer, ouvir, libertar. Então, quem vem ao nosso encontro é o Deus amoroso que decide salvar seu povo da morte eterna.
O advento é, portanto, a memoração de tal evento: a encarnação do verbo que vem para nos salvar de nossa condição, e que está para chegar brevemente, no natal. É por isso que neste período se afloram mais os nossos bons sentimentos; é o Príncipe da Paz quem está chegando, ele traz consigo a harmonia, a união, a concórdia, a fraternidade, o amor.
A cada domingo vão se meditando figuras importantes: Isaías, o profeta que anunciou o nascimento do descendente de Davi, vindo de uma Virgem (cf Is 7,14); João Batista, o precursor de Jesus, aquele responsável por “aplainar os caminhos do Senhor” (cf Lc 3); a Virgem Maria, como a Serva fiel, que com o seu “sim” trouxe ao mundo a salvação; bem como a figura de Jesus, o enviado de Deus.
Poderíamos dizer que o advento é, ao mesmo tempo, uma recordação da ação salvífica do Pai ao enviar seu Unigênito, como também nos introduz no mistério escatológico: o Senhor voltará glorioso novamente. Por isso, é também um momento para rever nossa vida, um convite para organizarmos nossos corações, pois Ele virá e deve nos encontrar vigilantes.
Encerramos também, com a festa de Cristo Rei, o ano do laicato, tempo frutuoso para rever o lugar do leigo na missão evangelizadora de nossas comunidades, bem como chamá-los à responsabilidade. Contudo, os leigos somos chamados a vivermos esse constante advento em nossa vida, nos preparando sempre para acolher aquele que vem, sobretudo no outro que necessita de nossa ajuda material e espiritual, e que virá glorioso novamente.
Preparemos a manjedoura dos nossos corações, abramos nossa vida à conversão, estejamos vigilantes, juntos com a Virgem Maria, nossa Mãe celeste, para aguardar pressurosos pela vinda do Rei de nossa vida, Cristo Jesus. Como canta o grande Alceu Valença: “Tu vens, Tu vens, eu já escuto os teus sinais”. Alegrai-vos, Ele está para chegar! Feliz e Santo advento para todos, espalhados nos rincões de nossa Diocese de Guanhães!
Álisson Sandro, seminarista estudante de filosofia