Com a quarta-feira de cinzas, dia de jejum e abstinência, iniciamos um novo tempo na Igreja; o tempo da Quaresma, esse que trás o intuito de nos preparar para celebrar, de coração renovado, o mistério Pascal de cristo. A celebração em si, e o ato de imposição das cinzas nos lembram o que Jesus nos diz no Evangelho: “Convertei-vos e crede no Evangelho”, (Mc 1,12-15).
A oração da bênção das cinzas é uma súplica a fim de que Deus derrame copiosas bênçãos sobre todos os que receberão as cinzas e que, prosseguindo na observância quaresmal, possam celebrar, de coração purificado, o mistério central de nossa fé; paixão, morte e ressurreição de Jesus, coração de todo o ano litúrgico, coração da Igreja.
Durante todo esse tempo, a Igreja faz uma caminhada toda voltada para os principais acontecimentos da vida de Cristo, levando-nos a refletir a nossa vida, enquanto cristãos, amados por Deus e peregrinos rumo ao Reino.
E juntamente com essa motivação espiritual, a igreja tem um propósito para todos os anos, e isso, sem dúvida, em comunhão com todas as comunidades, refletir sobre um tema, que nos provoca e requer de nós um assumir algumas propostas, que nos ajudam a melhor nos relacionar com as experiências que acontecem, em nossa comunidade de fé. O tema que a Igreja propôs, este ano, é “Fraternidade e superação da violência” e o lema é “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), como forma de difundir melhor a qualidade de vida a todos.
E a cada domingo, além da Campanha da Fraternidade, o próprio Evangelho nos coloca em contato com uma realidade vivida por Jesus e que, muitas vezes, é até nossa realidade.
Sendo assim, temos:
Primeiro domingo: Jesus é tentado no deserto. Umas das maiores tentações nossas, hoje, são o poder, o ter e o prazer.
Segundo domingo: Jesus é transfigurado no monte Tabor. É preciso nos transfigurar de nossas más aparências, que nos impedem de ressuscitar com Cristo.
Terceiro domingo: Jesus expulsa vendedores do templo. Às vezes, somos motivados a abusar do nosso corpo e esquecemos que ele é Templo de Deus. Qual o espaço de Deus em meu corpo-templo?
Quarto domingo: Jesus se mostra como vida e luz. O que nos impede de fazer essa experiência de vida, e de luz?
Quinto domingo: a morte nos devasta, mas Jesus é sinal de glorificação. Muitas vezes, vemos a morte como o fim de tudo e nos esquecemos de que Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Ele é a salvação.
Então caríssimos, nesse tempo que já percorre, tempo propício a nós cristãos, somos chamados a ouvir a voz do Senhor, rasgar nossos corações e a converter-se.
A proposta tríade: penitência, jejum e oração é um grande convite a conversão e à vivência quaresmal, são meios para se empreender um esforço mais acentuado e para nos aproximarmos daquilo que Deus espera de cada um de nós. A penitência nos fortalece a vontade, à semelhança do exercício físico em relação aos músculos de nosso corpo; o jejum nos permite colocarmos no lugar daqueles que passam necessidades e, sendo que aquilo que por ventura economizamos financeiramente com a sua prática, deve ser doado a algum necessitado; e a oração, coloca nosso coração mais perto do Coração de Deus, e nos fortalece contra as investidas do Mal.
Assim, movidos pelo espírito quaresmal, peçamos a Mãe das Dores, “concebida sem o Pecado Original”, que interceda por nós nesse “tempo favorável” para que cheguemos, com disposição e de espírito e abertura de coração, às Solenidades da Paixão, Morte e Ressurreição de Seu Filho.
Michel Hoguinele