“A inveja incomoda a competência do invejoso”
(Côn. Manuel)
As Sagradas Escrituras oferecem grandes reflexões para quem quer usufruir de oportunidades pensantes na vida. Uma delas é o momento em que Jesus se encontra diante de Pilatos. O capítulo 27 de Mateus é proeminente, sobretudo, quando relata o sentimento do Governador: “Pois ele sabia que o tinham entregue por inveja” (Mt 27, 18). O texto bíblico pode ser ainda lido e rezado em Marcos 15, 2-15; Lc 23, 2-5.13-25; Jo 18, 28 – 19,16. Aqui temos um nítido e absoluto efeito colateral da inveja. O que Pilatos quer expor é que: “As acusações que os sumos sacerdotes e os anciãos aduziam contra ele (Jesus)” (Mt 27, 12), nada mais era que a ação do império da inveja sendo levado a sério em todas as circunstâncias. Este grande mal não escolhe a pessoa. O que mais almeja é vê-la aprisionada aos desejos alheios, gerando todas as possíveis conquistas, para que ela não tenha como buscar o que deseja com suas próprias forças. Pilatos tentou salvar o Mestre: “Em cada festa, costumava o governador soltar para a multidão um prisioneiro” (Mt 27, 16 – 18), mas não conseguiu livrar Jesus. Eis, pois, que a inveja quando entra nos sentimentos da pessoa se encarrega de organizar todos os sintomas possíveis, com a finalidade de martirizar, machucar e incorporar os conceitos, para falsamente, se lisonjear com o prazeroso dever de exercitar a maldade latente numa idéia de que sempre vai conseguir vitória, triunfar e levar vantagem sobre o que quer. Daqui emergem palavras, comentários e sentimentos, que quando atingem o mais alto da pessoa, a consciência, querem obter o êxito a qualquer custo.
Mais do que um sentimento, a inveja, é algo, que aos poucos vai deformando a pessoa. Ninguém gosta de ser identificado como fariseu ou doutor da lei. A ação da inveja pode estar entre os que estão perto ou longe. Cada passo que damos buscando nosso objetivo com dignidade, trabalho, esforço, pode estar sendo observado por quem almeja e não consegue. Esta é a triste realidade de quem cai nas garras da inveja. Seu eu fica deformado, suas palavras, engordam pensamentos destrutivos do porque ele (ela) e não eu. Sua ânsia acalenta a notícia de que o outro (a) não conseguirá. O sorriso, embutido dentro de uma raiva, sobe ao pódio para aplaudir a considerada vitória do eu consegui. Nesta metodologia chegamos às palavras de Francisco Quevedo: “A inveja é assim tão magra e pálida porque morde e não come”. Vejam a maldade dos sumos sacerdotes e anciãos ao “incitarem as multidões para soltar Barrabás e fizessem perecer Jesus” (Mt 27, 20). Sabemos que a inveja não parou nos fariseus e anciãos. Na sociedade atual este malefício está ocupando o coração de muita gente, abrindo valas de grandes superfícies fazendo nascer lesões na vida pessoal e espiritual, passando até mesmo despercebida como pecado, consumindo quem a hospeda. Financiar a inveja, em si mesmo, só lucra quem nunca quer atingir com esforço próprio; quem alberga uma ambição do mais refinado nível de incompetência.
Este ruinoso sentimento gosta de nos comover com freqüência. Sua vitória é a de: “nos tirar a paz de espírito a saúde do corpo e destruir-nos como um câncer” (Pv 14, 30). Por isso: “não devemos ser orgulhosos nem ter inveja uns dos outros (Gl 5,26)”. O texto bíblico é muito claro quando solenemente revela: “a inveja é condenada pelo Senhor, é denominada como fruto da carne (Gl 5, 21)”. Geralmente tem sua origem em disputas insensatas originando “insultos e desconfianças maldosas” (1Tm 6.4), atingindo sempre o campo profissional ou pessoal (Ecl 4, 4). Seu contrataque preferido é o ciúme e ama se mostrar com um falso testemunho. Miguel Cervantes nos alerta: “A inveja vê sempre tudo com lentes de aumento que transformam pequenas coisas em grandiosas, anões em gigantes, indícios em certezas”. A inveja quer ver o outro descer os degraus e ter a certeza que chegou ao último. Neste ensejo, ela, se sente dona do pedaço. Seu terreno é intocável. No baú, reserva os mais belos enigmas de criativos pensamentos para se defender. Quer ter uma razão, argumentada, num alto preço, investindo na derrota do outro. Fala-nos Niceto Zamora: “Os ataques da inveja são os únicos em que o agressor, se pudesse, preferia fazer o papel da vítima”. Monitorando sua pedagogia de ação, a inveja torna a pessoa agressiva. Seu veneno é tão sutil que quando atinge a pessoa todo o corpo dói. Terminamos com o alerta Alberto da Brescia: “O invejoso se queima por dentro e por fora”. Não engrosses a fila dos invejosos. Lute por seus objetivos com fé, amor, lealdade e, sobretudo, com honra. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Prof.º do Seminário de Diamantina e da PUC – MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina – (ALAD).
Membro da Academia Marial – SP