“A paciência de Deus é a sua misericórdia”.
(Papa Francisco)
A festa da Divina Misericórdia se celebra no Segundo Domingo da Páscoa, no tempo solene que se segue ao Tríduo Pascal. Este culmina com o último dia da oitava da Páscoa, ao abrir-se ao amor e louvor da misericórdia divina. Sua Festa, na Igreja, quer exteriorizar a espiritualidade de sua divina misericórdia. Sua instituição aconteceu no Jubileu do ano 2000, quando o então Papa e, hoje, São João Paulo II, ao canonizar Santa Faustina, declarou: “de agora em diante na Igreja inteira tomará o nome de Domingo da Divina Misericórdia” (30.04.2000). A liturgia deste Domingo nos consola ao proclamar: “Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom!‘Eterna é a sua misericórdia!’ (…) Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 118, 1.24). Por isso, sempre me fizeram pensar a palavras da carta aos Hebreus, ao proferirem: “Cheguemo-nos, pois, com confiança ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno (Heb 4,16). Pedro afirma: “Pense na paciência do Senhor, como sua oportunidade de ser salvo”. (2 Ped 3, 15). O Salmo 103: 8, 10-14 é direto: “Compassivo e piedoso é o Senhor, lento para a cólera e abundante em amor, não nos trata segundo nossas iniqüidades”. (…) “Pois quanto o céu está elevado acima da terra, assim é grande o seu amor para com os que o temem; pois ele conhece a nossa estrutura, e se lembra de que somos pó”. A misericórdia sempre nos leva a reencontrar nossa dignidade. Só a misericórdia de Deus salva e perdoa. Veja o que diz Pe. Sopocho: “Um fator decisivo para a obtenção da misericórdia Divina é a confiança em Deus, sem hesitações nem fraquezas”.
A Sagrada Escritura tem as orientações necessárias a quem quer vivenciar e acolher a misericórdia de Deus. São muitas as parábolas, episódios e narrações que nos levam a pensar que o Pai sempre quer fazer a festa e jamais a história do pecado (Lc 15, 11 – 32). Eis a razão de recorrermos à misericórdia de Deus. A misericórdia não quer exaltar o pecado, mas quer festejar o retorno ao coração do Pai (Lc 15, 11-32). Já nos diz Santa Tereza d’Ávila: “Uma prova de que Deus esteja conosco não é o fato de que não venhamos a cair, mas que nos levantemos depois de cada queda”. O pecado nos deixa sem rumo e até perplexos. Ficamos perdidos em nossa existência humana e cristã. Desequilibramos-nos perante a consciência e os sentimentos. Tudo o que fazemos parece não dar certo. O pecado se delícia em nos ver abatidos, tristes, inertes e, sobretudo, vazios em nossa personalidade, caráter e maneira e ser. O pecado é como a laranja lima, doce no começo, amargo no final. Lembre-se que nem sempre o relógio da vida te presenteia com a hora certa. O pecado te confunde com os minutos fazendo deles horas inteiras de arrependimento. As trila o pecado sempre nos leva a caminhos de amargura e tristeza. Lembremo-nos de Pedro (Mc 14, 66s; Lc 22, 54s; Jo 18, 15s). O pecado é como um tsunami arrasa a consciência, destrói a paz e deixa-nos num beco sem saída. Quem teima a ficar no pecado se fere e a qualquer hora pode ferir os outros. O Papa emérito Bento XVI nos alerta: “O pecado é sempre uma ‘droga’, mentira de falsa felicidade”. E ainda: “Sem orientação à verdade toda a cultura se desfaz, decai no relativismo e se perde no efêmero”. Por isso, temos O Sacramento da Reconciliação que sempre nos atualiza com Deus e conosco.
Uma atenta leitura da parábola da moeda perdia, abre o sentimento e clareia a misericórdia e (Lc 15, 8-10). É o sentido do prejuízo. Não existe nada pior do que ver o que conquistamos com tanto amor ser extraviado. A parábola fala de uma simples moeda. Isso demonstra que não é o muito que causa o desgosto, mas o dano que fazemos quando perdemos algo de precioso em nós. Uma palavra, telefonema, ofensa, desconfiança, traição… entre outros, podem trazer danos que para supri-los precisamos acender uma lâmpada, varrer a casa e procurar com cuidado até nos encontrar (Lc 15, 8). A lâmpada e o varrer nada mais é do que a misericórdia de Deus. São João Paulo II nos alerta: “Jesus é novidade de vida para quem abre o coração e, reconhecendo o próprio pecado, acolhe a sua misericórdia que salva”. O Papa Francisco logo no inicio do seu Pontificado, disse: “Deus jamais se cansa de nos perdoar. Nós é que nos cansamos de pedir perdão”. “A paciência de Deus é a sua misericórdia”. O pecado gosta de nos ver na cruz. Não te esqueças que Jesus já morreu uma vez por todas na cruz e lá estava o meu e o teu pecado. Nunca te sintas abandonado. Você com Deus é maior do que o pecado. Os santos nos estimulam. Santo Afonso de Ligório, declara: “Deus é fácil e pródigo em usar de sua misericórdia para com todos e em todos os tempos”. Santo Antônio de Lisboa, testemunha: “Misericordioso é aquele que tem compaixão da miséria alheia”. Santa Faustina, abre o coração e a mente da gente ao dizer: “Ó Jesus, o abismo da Vossa misericórdia derramou-se na minha alma, que é apenas o abismo da miséria”. Fazendo referência ao cardeal Walter Kasper, o Papa Francisco atesta: “A misericórdia muda tudo; torna o mundo menos frio e mais justo”. Recorra sempre à misericórdia de Deus. Diga a todo o momento: “Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor” (Sl 89, 2). Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Prof.º do Seminário de Diamantina e da PUC-MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina – (ALAD).
Membro da Academia Marial – SP