22 anos da morte de Dom Felippe. Muita saudade e Gratidão! Texto digitado de uma homilia dele e comentários emocionantes de algumas pessoas da Diocese

Homilia de Dom Antonio Felippe da Cunha, no dia 14 de agosto de 1988 na comunidade Nazaré, paróquia São Sebastião em Joanésia, numa celebração do Sacramento da Crisma baseada no Evangelho: “VÓS SOIS O SAL DA TERRA E A LUZ DO MUNDO”  Mt 5,13-16.

Queridos irmãos, Jesus veio a esta terra nada mais, nada menos do que trazer para nós a vida.

Naquele que traz a vida, veio o Espírito Santo. Ele preparou o coração de seus amigos, seus discípulos, para receberem o Espírito Santo. Se o Espírito Santo não nos fosse dado, nós estaríamos aí sem rumo até hoje. Então Jesus veio e preparou o coração do povo, falou a respeito de muitas coisas: como viver uns pelos outros, ninguém odiar ninguém, tratar todos como irmãos, na luta uns pelos outros. Foi isso que Jesus ensinou.

Muita gente não entendia isso não. O povo estava com o coração tão fechado, acostumados a fazer sim, o bem aos outros, mas quando Jesus falava “vocês devem amar até os inimigos” ninguém entendia isso. E aí Jesus falou: “Eu vou (depois que eu morrer) voltar para o Pai, mas vou enviar para vocês o Espírito Santo que vai esclarecer essas coisas que vocês não estão entendendo ainda. Ele vai esclarecer muita coisa e vocês vão fazer coisas maiores do que eu fiz até agora.”

Vejam vocês, como que Jesus acreditou em nós. Acreditou na capacidade do povo falando: “Vocês vão realizar pelos poderes do Espírito Santo, coisas maiores do que Eu fiz até agora.”

Agora, acontece que nós só podemos fazer coisas maiores como Jesus falou, se nós formos unidos em comunidade. Se nós formos organizados como povo forte; aí é que está o Espírito Santo. O Espírito Santo gosta de agir em um povo unido e organizado que luta junto e que sabe das coisas. Um povo unido e organizado é forte. Mas a gente sozinho é uma fraqueza… A gente às vezes diz “eu já estou chegando no fim!” Chegando no fim coisa nenhuma, está chegando no começo. A comunidade quando é organizada ninguém morre, o corpo às vezes desaparece, mas a vida continua. Ninguém chega no fim. A gente está velho, mas não está mofado, porque a vida continua mesmo quando a gente morre.

A festa de Pentecostes me lembra o jubileu, onde muita gente vai para fazer negócios, beber, fazer a farra, mas a maioria vai para rezar. Na festa da colheita muitos vinham por motivos religiosos, cada um na sua própria língua. E de repente vem o Espírito Santo e todos se entendiam muito bem. Os que estavam reunidos por razão de fé, começaram a falar para aquele povo a mesma língua.

Para nós aqui na comunidade Nazaré o que significa falar na mesma língua? É falar de uma maneira que todo mundo entende? Pensem com o coração. Coloquem o coração para pensar. Podem falar. Vamos fazer a brincadeira da roda dentada até cair no dente certo. Vão falando…

Somos de outras comunidades, mas há uma língua que todo mundo entende. Amor! Não é isso? Todo mundo entende. Quando a pessoa não fala a nossa língua portuguesa, nossa língua do Brasil, mas a gente a recebe com o amor, ela entende. Foi isso que o Espírito Santo provocou naqueles homens, nos apóstolos. Porque eles falaram com amor, com a força de Jesus, com a força do Espírito Santo e todo mundo entendia.

Eles disseram assim: “Olha, (estrangeiros, gente lá da Ásia, da Frígia, da Panfília, da Padadócia, do Ponto, da Media, da Mesopotâmia, da Judeia, do Egito, tudo gente estrangeira num só lugar e todo mundo junto entendia os apostolos falando)  como eles pregam! Estão falando uma palavra só! Estamos entendendo na nossa língua!” Ficaram alegres, mas aí começaram a debochar: “Ah! Esses coitados, estão bêbados, beberam muito vinho e agora estão falando coisas assim, pelo calcanhar.”

Mas é por quê? O que vocês entendem quando uma comunidade começa a agir assim e o pessoal começa a falar que esse povo é estranho? O que vocês entendem disso? Quando uma comunidade está unida fazendo as coisas diferentes do costumeiro? Cada um fica no seu canto, mas de repente começa a se reunir e daí começa a chamar a atenção. Não é isso? Começam a brilhar.

Por isso é que muitas vezes se tem que pensar: há muita gente que está afastada da comunidade e precisa então de alguém começar a fermentar para fazer crescer os outros. Como acontecia com os primeiros cristãos. Era tanto entusiasmo no meio deles que ninguém passava necessidade de nada, que começaram a puxar outros para viver daquele jeito que eles viviam. Não era só aumentar o número não, mas era para outros começarem a viver de verdade. Isso que se chama ser missionário. Isso que se chama iluminar, ser sal e luz.

Se vocês quiserem ser luz, tem que ser uns pelos outros, sabendo que o Espírito Santo faz coisas maravilhosas. Como Jesus falou aos apóstolos que o Espírito Santo vai fazer coisas maiores do que Ele fez. Isso é verdade. Com essa luz você vai começar a atrair pessoas.

Jesus jogou a semente em vocês, mas são vocês que vão adubar essa semente com a maneira unida e organizada que vocês viverem. Então vocês serão sal e luz para arrastar os outros, para atrair os outros.

Então nós vamos agora pensar no Espírito Santo e refletir neste Espírito que nos foi dado de maneira muito sensível na Crisma.

Quando a gente recebe o Espírito Santo na Crisma, não é só pra gente não, é para distribuir para a comunidade. Somos chamados a ser apóstolos. Cada um vivendo e fazendo o que pode. Só não pode é ficar afastado da comunidade. Não pode ser um à parte. Como diziam os antigos: “Não pode ficar fora da manada, porque Caititu fora da manada é papá de onça.” Não tem força, é fraco. Quem vive longe, escondido, às vezes até fazendo maldade, é um fraco.

Quando se é ligado à comunidade, cada um fazendo o bem do jeito que pode, contribuindo com seu dom…

Na comunidade, tem que se valorizar as forças de todo mundo, um não faz uma coisa, mas pode fazer outra. Tudo para o bem da comunidade. Isto é a força do Espírito Santo.

Arquivo original  em áudio de Roberto Magno.

Observação: Roberto tinha apenas 8 anos, nesse dia. Mesmo pequeno, usando um gravador, gravou em fita cassete esta homilia. E hoje,  ouvindo-a, ele a transcreveu, para compartilhar conosco esta querida lembrança de nosso primeiro pastor.

COMENTÁRIOS:

22 anos da morte de nosso de nosso primeiro bispo, Dom Felippe. Saudade e gratidão! Dom Antônio Felippe da Cunha, exemplo de humildade na pobreza, irmão de todos, homem de Deus, pastor missionário. Continue intercedendo junto a Deus por nossa Diocese Guanhães, amém!

                                                                                                 Simone Mendanha

Um homem de pulso firme, olhar penetrante e cativante como o olhar de Jesus. Tinha uma visão clara e objetivos realistas do caminho que iria seguir. Dizer que viveu a santidade já aqui na terra é repetir o que está claro para todos,  mas mesmo assim, faço este lembrete: foi um santo que habitou entre nós ; sua partida só nos ajudou a compreender melhor o mistério do Amor de Deus por nós. Sabia olhar o ser humano a partir de suas características peculiares, sem generalizar ou julgamento precipitado.

Rogue ao Pai por nós, querido mestre. Seu sacerdócio nos inspira e nos enriquece neste momento tão difícil da evangelização.

Foi um homem atualizado vivendo e atualizando o Evangelho em cada realidade. Deus seja louvado!

                                                                                                 Pe José Aparecido dos Santos

Como esquecer este grande homem e hoje  acho que  posso  dizer Santo Dom Felipe.  Foram tantos encontros pastorais junto com ele. A minha primeira missão, foi junto a ele , fomos de casa em casa visitar as famílias no meu bairro, Expansão. Quanto aprendi naqueles fins de semana abençoados. E o nosso passeio à  Serra da Piedade,  tantos momentos de oração,  onde oramos e agimos.  Uma frase que nunca esqueci e nem esquecerei, foi para meu primeiro filho. Uma criança que não tem uma cicatriz na testa nunca foi criança. Deixe a criança ser criança.  Dom Felipe foi e sempre será especial e lembrado com carinho por minha família e em homenagem a ele, meu sobrinho ganhou o seu nome.                       

Falar dele é  difícil e  emocionante!

                                      Jussara Ventura (Guanhães)

Eu conheci  Dom Felippe  e fiquei muito próxima dele. Quando ele  veio fazer visita pastoral, ele ficou conosco vários dias. Minha avó e eu tomávamos conta da capelinha de nossa Senhora de Lourdes lá no Canga. Ele ficou conhecendo o local e celebrou a missa de despedida lá. Foi maravilho! Um bispo celebrando em uma capela dentro do mato!

                                                                                                  Socorro ( Morro do Pilar)

Dom Felippe faz parte do meu conceito de fé. Tive a oportunidade de conhecer este maravilhoso homem. Sua forma de agir, sua maneira de pensar e sua maneira de falar me mostraram uma maneira nova de ver Jesus no irmão. Seu jeito simples mostrou-me  um novo jeito de ser igreja. Ainda hoje, todos os dias, me lembro dele em minhas orações. Sempre peço sua intercessão, pois acredito, que sua santidade o levou para junto do Pai. Ele se fez homem de Deus em nosso meio, pois soube  fazer-se pequeno junto aos pequenos.

                                       José Geraldo Ventura (Guanhães)

“Não podemos perder nem o rumo nem o prumo”. O rumo é Jesus Cristo e o prumo é a comunidade”.    Frase que ficou pra sempre marcada.

                                     Madalena ( Comunidade do Taquaral)

“Um olho na Bíblia, outro na vida”.          “ Unidos e organizados o caminho se faz. “

Saudades dos encontros em Guanhães : Pastoral da juventude e outras, contando sempre com a presença super animada de dom Felipe.

                                            Maria Aparecida Silva (Frei Lagonegro)

Dom Felipe  nosso primeiro  pastor,  sempre  soube  conduzir  suas  ovelhas  com  carinho  e amor. Ele  sempre dizia que  a gente  não  podia  perder  nem  o rumo  nem  o prumo  .   

                                                                                       Zulmira (Guanhães)

Falar de Dom Felippe é muito fácil , porém a  emoção atrapalha  o raciocínio e a gente se perde nas palavras . Estou aqui tentando escrever e fico vendo um filme passar em minha cabeça. Quanta coisa boa ! Quanta lição de vida e aprendizado! Só posso dizer: Obrigada, Senhor por mais este presente : ter me dado a chance de ter conhecido e convivido  com esse homem de Deus que passou por aqui. Um dia ele disse para mim e Helena Pires coordenadoras da catequese e pastoral da criança que nós éramos as suas     “Maria Beiú”. Que saudade! Lembro-me como se fosse  hoje de seu aceno  despedindo-se  de nós duas, depois de deixar-nos no Regional Leste II, para o encontro anual das coordenadoras Diocesanas de catequese, onde chegou carregando nossas malas sozinho, para o encanto de todos e logo em seguida a tristeza , quando anunciou que não era mais bispo de Guanhães. Isso em fevereiro, uns dez dias antes de falecer. Deus o tenha em sua Glória!

Por aqui passou um homem de Deus, homem simples ,humilde,leal, franco, amigo e cheio de caridade fraterna. Como verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, com a presteza de Maria, sempre esteve do lado dos mais fracos, dos oprimidos e rejeitados. Com que firmeza empunhou a luta pela justiça, pelas causas sociais. Ele não só anunciava o Evangelho como denunciava o que estava errado. Não se calava diante das injustiças. Com facilidade anunciava o Evangelho, entrando na cultura do outro, mas respeitando o seu jeito de ser. Tinha uma voz calma, firme e serena .

Que saudades! Com certeza está no Céu enchendo-o de alegria.

                                       Edelveis Alvarenga ( Guanhães)

Com Dom Felippe, Homem de Deus, que por aqui passou aprendi a amar muito mais, a natureza, os índios, a Medicina Alternativa, a catequese, a vida em comunidade….Um homem muito além do seu tempo! Postura e gestos”elegantíssimos”! Muito fino, apesar das vestes tão simples e humildes: calça e camisetas bem surradinhas, sandálias singelas…Tudo singelo! Mas de uma fineza e beleza, incríveis! Não havia quem o conhecesse bem e não se  encantasse com ele, o respeitasse e o amasse!

 Nós, da Diocese de Guanhães, fomos de fato, agraciados por tê-lo como primeiro pastor, nosso primeiro amor! Mesmo que por tão pouco tempo, mas um tempo muito marcante para toda a Diocese !

Muita saudade! Deus seja louvado, hoje e sempre!

Eliana Alvarenga (Guanhães)

 

 

 

 

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