Irmão em Cristo desta igreja particular de Guanhães, iremos celebrar no dia 22 de novembro próximo o dia dos músicos e o dia de Santa Cecilia virgem e mártir do IV século da cristandade. Santa Cecilia é considerada pela antiga tradição da igreja, como patrona dos músicos e também cantores, pessoas estas que cumprem um importante dever em nossas comunidades, sejam elas tocando seus instrumentos e partilhando seus dons e talentos, ou cantando. Todos estão a serviço da liturgia e por isso devem sempre ser lembrados com carinho por toda comunidade.
Entre a liturgia e a música existiu desde o início da igreja uma relação fraterna. Quando o homem louva Deus, a palavra sozinha é insuficiente. A palavra dirigida a Deus transpõe os limites da linguagem humana. Por esse motivo, tal palavra, em todos os tempos, precisamente devido à sua natureza, buscou o auxílio da arte e da música, do canto e da voz da criação no som dos instrumentos. Assim ,não só o homem participa no louvor de Deus, mas toda a criação. Estar a serviço da liturgia não é apenas um privilégio, mas sim um dever de cada cristão batizado que deve participar dos mistérios de Cristo em toda a sua grandeza e dignidade.
Sabemos que existem pessoas em nossas comunidades, paróquias e capelas que se dedicam ao sustento da louvação, seja através do canto ou de seus instrumentos que tornam o mistério celebrado mais bonito e digno. É dever de toda a comunidade sustentar a louvação com o auxílio de nossos cantores e instrumentistas. Como canto litúrgico se entende aquele que a Igreja admite por direito na celebração litúrgica, e por este mesmo motivo, deve manifestar plenamente a fé católica.
A música só será litúrgica quando nela a Igreja reconhecer sua oração, quando ela aparece para acompanhar os textos a serem cantados. Como dizia santo Agostinho aos pagãos que indagavam sobre sua fé: “Queres ver em que eu creio, venha à Igreja ouvir o que canto”. A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor cultural que ultrapassa todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido ao texto, constitui parte integrante da liturgia solene (Constituição Sobre a Sagrada Liturgia) . Esta afirmação do Concílio Vaticano II faz eco à Sagrada Escritura que apresenta em suas páginas mais de seiscentas referências ao canto e à música. Do primeiro livro, o Gênesis, ao último, o Apocalipse, o canto aparece como o desenrolar de uma grande e solene liturgia. “Celebrai o Senhor, aclamai o seu nome, pregai entre as nações suas obras. Cantai-lhe hinos e cânticos espirituais, anunciai todas as suas maravilhas”, diz o rei Davi em 1Cron 16,8-9. Este relato, entre tantos outros, deixa transparecer uma rica e jubilosa liturgia, na qual as aclamações, a música e o canto são elementos que fazem parte da fé de um povo.
Deste modo, os atos litúrgicos revestem-se de forma mais elevada e nobre quando os ofícios, nos quais o povo participa ativamente, são celebrados com canto, pois onde há manifestação de vida comunitária existe o canto e onde existe o canto, celebra-se a vida e aquele que venceu a morte.
Podemos perceber então, que após a comunhão sacramental, o canto é o elemento que melhor colabora para uma verdadeira participação na liturgia, já que é uma das expressões mais profundas e autênticas dela própria, possibilitando ao mesmo tempo a participação pessoal e comunitária dos fiéis. Por ser a celebração do Mistério Pascal realizada pelo povo de Deus, estão a serviço do Mistério da Fé e da assembleia. O que deve prevalecer não são os gostos, a estética individual de cada um, mas a essência do Mistério e a participação ativa de todos. Que Santa Cecilia nossa padroeira abençoe nossos grupos de canto e que assim como ela possamos professar nossa fé no Deus uno e trino. Seminarista Daniel Bueno Borges