Lembro-me bem da 1ª série do Ensino Médio. A professora de Língua Portuguesa, por quem eu possuía uma verdadeira admiração, pelo saber e pela dedicação, era a Vânia Gonçalves. Estudava à noite. Saía de casa sempre à tarde depois de um dia inteiro de trabalho na roça. Estudar era sinônimo de ascensão social.
Mesmo sem entender o porquê de me dedicar ao estudo da química, física e matemática, ouvia sempre da minha mãe e dos meus tios: “Você só será alguma coisa na vida se estudar. Sem estudo a gente não consegue nada.” Mas a aprendizagem parecia não fazer parte do nosso cotidiano. Aliás, aprendíamos sim outras coisas. Plantar, colher, cuidar da horta, tirar o leite da vaca etc. eram tarefas absolutamente rurais, próprias daquele ambiente, das quais a escola estava completamente desligada.
Com um caderno apenas na mão, aquele grosso com 10 matérias, íamos para a escola de ônibus escolar. Chegávamos à cidade para estudar. Mas sempre deixávamos a escola de lado. Ficávamos a noite toda sentados na praça ou nos botecos, jogando truco, tomando Coca-Cola, às vezes, paquerando alguma colega.
Em uma noite qualquer, a professora aproximou-se, viu-nos sentados no banco da Praça Padre José Augusto de Oliveira, onde está situada a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo, e perguntou: “O que estão fazendo aqui? Deveriam estar na escola.” Ninguém respondeu nada. Todos saíram correndo. Aquilo certamente nos causou vergonha. Não sei por que até hoje, eu fiquei ali. Comecei a ouvi-la, dava-me conselhos, dizia-me o quanto eu estava perdendo tempo, falou-me que as horas fora da escola fariam uma falta tremenda para mim. Não disse nada. Silenciei.
Hoje, depois de tanto tempo, lembro-me com carinho daquele lugar, da cena, da conversa, do diálogo, quase monólogo, com a professora Vânia. E me pergunto por que a sociedade brasileira desprestigia tanto o professor. Ao mesmo tempo, me interrogo se esse pensamento está correto.
Navegando pelas redes sociais, leio tantas mensagens de apoio, de carinho, de felicitações. Há muitos reconhecimentos. Infelizmente, vejo também muitos problemas. Como o docente enfrenta tudo isso? Resistência? Fé, coragem, trabalho? Deve existir alguma explicação para isso.
A professora Vânia me fez perceber que a sala de aula constitui apenas um espaço de aprendizagem. Não o único. Há outros, vários, espalhados por aí. Em cada esquina, canto, lugar, veremos os melhores professores a semear coragem, esperança, saberes, alegrias. Algum dia você ainda reencontrará seu professor!
Feliz Dia do Professor!
Luís Carlos Pinto
Imagem: reprodução/ internet.