Acontecimentos recentes de violência, crimes e comportamentos hediondos nos apontam a intolerância para com a diferença. A enciclopédia livre wikipedia descreve a intolerância como “uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões.”Formas comuns de intolerância incluem ações discriminatórias de controle social, como racismo, sexismo, antissemitismo, homofobia, heterossexismo, etaísmo (discriminação por idade), intolerância religiosa e intolerância política. Todavia, não se limita a estas formas: alguém pode ser intolerante a quaisquer ideias de qualquer pessoa.
Em nossa convivência urbana, na qual milhares de pessoas habitam um mesmo espaço, mesmo quando não queremos a interação com o outro é inevitável.Mesmo sem percebermos ou ainda sem dizer uma única palavra, ao nos confrontarmos com o estranho, o não familiar, de alguma forma, nossas condutas, ações e pensamentos moldam-se a partir dessa interação.
Se considerarmos o conceito de intolerância citadono início do texto, observa-se que há uma falta. E como toda falta, pode ser preenchida com algo. Acredito que especialmente num país tão diverso como o nosso onde a mistura cultural está presente em toda parte, é importante colocar esse assunto em pauta. Faz-se preciso relembrar que a vida não é uma linha reta em direção a tudo que desejamos e que nos faz sentir bem, onde o meu desejo e minha opinião são os únicos que devem ser respeitados. Por mais óbvio que isso pareça ser,essa afirmativa precisa ser repetida, para ser lembrada.
Numa tentativa tímida de preencher essa falta, ouso introduzir um outro conceito, necessário para minimizar a onda de intolerância que nos assola: o conceito de alteridade. A interação entre o “eu”, interior e particular a cada um, e o “outro”, o além de mim, é o que denominamos de alteridade. Esse conceito parte do pressuposto de que todo indivíduo social é interdependente dos demais sujeitos de seu contexto social, isto é, o mundo individual só existe diante do contraste com o mundo do outro.O antropólogo brasileiro Gilberto Velho esclarece: “A noção de outro ressalta que a diferença constitui a vida social, à medida que esta efetiva-se através das dinâmicas sociais. Assim sendo a diferença é, simultaneamente, a base da vida social e fonte permanente de tensão e conflito.”
Portanto a diferença do outro também me faz ser quem sou, e devo respeitá-la. Aceitar a ação do outro não é compactuar, ou ainda ser como ele. Basta por em prática aquele velho ditado já tão conhecido: “o meu direito termina onde começa o do outro”. É preciso enxergar esse outro, identificando-o, considerando-o, valorizando-o e, acima de tudo, respeitando-o. Talvez seja essa essência que nos falte no momento.
“Ou aprendemos a viver como irmãos, ou vamos morrer juntos como idiotas”.Martin Luther King
Marizélia Martins