Surge no século XVI o filósofo político Nicolau Maquiavel que em sua obra ‘O Príncipe’ expõe à respeito de questões relacionadas ao poder e a dominação por parte dos impérios, mas ao mesmo tempo revela muito sobre os nossos desejos. Esse filósofo, complexo e enigmático, dá um salto objetivo na história e a transforma deixando de lado concepções que visam ao “ser” e passa a concentrar-se no “dever ser”, ou seja, a utopia política dá espaço para a realidade do fato. “O “dever ser” do príncipe de Maquiavel é, portanto, concreto, é ato criador” (ARANHA, 1993, p. 48).
Em suas observações sobre o poder dos governantes ele chega à conclusão de que para se manter no poder é preciso em alguns momentos deixar de lado alguns valores tanto éticos quanto religiosos. Assim, Maquiavel é o primeiro a quebrar com paradigmas religiosos da Idade Média, tornando-se o pai da modernidade política.
Maquiavel recebe injustamente os deméritos, devido aos mitos que recaem sobre sua obra “O Príncipe”. A máxima “os fins justificam os meios” tornou-se meio de apropriação errônea, “contrariando essa conclusão reducionista; o que Maquiavel empreende, de fato, é um severo ataque à tradição e à utopia, parecendo-lhe mais apropriado interpelar a dimensão política a partir do viés da realidade do fato e não de imaginação” (ARANHA, 1993, p. 62).
Newton Bignotto comenta que a existência do príncipe se concretiza por meio da imagem de poder criada pelos outros, assim, torna-se prisioneiro de um jogo de aparência. Só detém de todo o poder porque há uma representação do mesmo como tal. Mostrar-se religioso, ético, virtuoso, são algumas dentre as várias formas de aparentar igualdade ao povo. Este espera do príncipe uma aparência para que os faça acreditar. Há uma supervalorização da superficialidade. A aparência precede à ação. Assim, sempre que se fala em poder é visível a repulsa que a maioria ou todos sentem, mas que na verdade é uma repulsa de pura representação, pois todos nós, seres humanos, gostamos do poder e o buscamos, mesmo que seja um poder para o progresso ou então para a dominação, desde a família até os governos. Após a análise da personificação num contexto político, pode-se pensar que “é, pois, uma condição fundamental da política desenvolver-se na aparência” (BIGNOTTO apud Ponty, 1991, p. 140).
Portanto, poder e desejo estão interligados quando se estuda a obra ‘O Príncipe’ sem esquecer é claro de toda a história da humanidade. Maquiavel nos ensina que para se chegar ao poder não há a necessidade de ser o tempo todo bom e amoroso ou religioso, basta apenas saber administrar o desejo de glória com a carência do povo.
Vinícius Lucas
Diocese de Guanhães
seminarista do 3º Ano de Filosofia
REFERÊNCIAS:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Maquiavel: A Lógica da Força 1ª ed. São Paulo: Moderna, 1993
BIGNOTTO, Newton. Maquiavel Republicano 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1991.