Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
(Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e o Pampa, nossa casa comum)
(CF – 2017)
A Sagrada Escritura nos diz: “No princípio, criou Deus o céu e a terra” (Gn 1, 1), e para continuar a aprofundar e cuidar de sua obra Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semalhança” (Gn 1, 26). Por isso, entre muitos atributos que diferenciam o ser humano dos demais, como por exemplo, a razão, moral, honestidade, respeito, entre outros, certamente, a fraqueza humana não o deixa fora de todas estas características qualitativas . Assim, o tempo da quaresma com suas orientações pedagógicas, presenteia o cristão convidando-o a viver as mais ricas reflexões de fidelidade à Deus, de obediência à sua palavra e a jogar-se na sua misericórdia. É a grande oportunidade que nos é oferecida. Para engrandecer este tempo tão propício aos cristãos temos a Camapanha da Fraternidade que este ano nos orienta para uma de nossas grandes riquezas, a ecologia. Assim temos: “Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida”. O lema, fundamentado na Sagrada Escritura, nos orientando para a ordem do Criador: “Cultivar e guardar a criação.” (Gn 2,15). No Brasil, nossa grande casa comum, é notório que este grande jardim que Deus criou por amor, o homem está degradando por ganância. Há uma velocidade acentuada na destruição da natureza e uma lentidão na sua recuperação. Biomas, para quem na sabe, são regiões que no seu todo formam um conjunto de vida vegetal, animal, climática e bacias hidrográficas. Tudo está interligado. No Brasil temos seis regiões-biomas, a saber: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e o Pampa. Todas as regiões estão sendo depredadas. O homem que devia ser cuidador da nossa casa comum tornou-se destruidor. O Meio Ambiente está cheio de chagas causadas pelo sistema econômico mundial e os modelos de crescimento. Eis, pois, a urgência da conversão ecológica que consiste em passar do consumo ao sacrifício, da avidez à generosidade, do desperdício à partilha. Precisamos cultivar o sentimento de casa comum e de família.
O lançamento da Campanha da Fraternidade no tempo da Quresma é muito oportuno. Neste tempo forte ouvimos palavras como penitência, arrependimento, jejum, conversão, que ao serem ouvidas por nós, quer nas liturgias eucarísticas, textos bíblicos, via sacras, pregações, palestras e nos meios de comunicação de caráter religioso, querem também nos interligar, ou seja, Igreja e sociedade, a começar pela comunidade onde estamos inseridos. Tudo isso são fontes maravilhosas que nos levam a um encontro com Deus e nós mesmos. Santo Antônio nos seus dizeres atesta: “a caridade é a alma da fé”. O grande taumaturgo assevera: “Quem não possui a caridade, mesmo que faça tudo muito bem feito, sempre trabalha em vão”. Quem pratica a caridade sempre está orando sem cessar. Por isso, o tempo da Quaresma é especial em sua metodologia espiritual. Neste tempo litúrgico encontramos à nossa disposição a misericórdia de Deus que no dizer do Papa Francisco “jamais se cansa de perdoar; nós é que nos cansamos de pedir perdão”. A Campanha da Fraternidade leva-nos a pedir perdão. Ela nos conscientiza do perigo e das conseqüências maléficas do “pecado cósmico”. Já nos diz São Paulo Apóstolo que “a criação geme e sofre dores de parto” (Rm 8,22). Que o texto base da Campanha da Fraternidade nos oriente. Todo nosso cuidado com a natureza tem seu fundamento no amor do Criador. Ele está presente em todo o Universo desde as pequeninas criaturas. Tudo o que existe é sinal da providência, sabedoria, beleza e amor de Deus.
O Papa Francisco, profeta de nossos tempos ao se dirigir a nós que habitamos o Planeta Terra, nos convida a uma “conversão ecológica, uma cultura ambiental e uma espiritualidade defensora da natureza”. A terra transformou-se num “depósito de lixo”, diz o Papa, e lamenta que muita gente ainda tenha atitude de indiferença, desinteresse, resignação, diante de tanta destruição. Na sua mensagem para a Campanha da fraternidade de 2017 na Igreja do Brasil o Pontífice nos diz: “O objetivo da Campanha da Fraternidade deste ano, inspirado na passagem do Livro do Gênesis (cf. Gn 2,15), é cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho. Como “não podemos deixar de considerar os efeitos da degradação ambiental, do modelo atual de desenvolvimento e da cultura do descarte sobre a vida das pessoas” (LS, 43). Este, precisamente, é um dos maiores desafios em todas as partes da terra, até porque as degradações do ambiente são sempre acompanhadas pelas injustiças sociais”. Vamos juntos nesta quaresma buscar o melhor para nossa santificação pessoal e social, não esquecendo nosso ecossistema, vale dizer: Cuidar do meio ambiente a flora, fauna os microrganismos que nele habitam, e que incluem os fatores de equilíbrio geológico, atmosférico, meteorológico e biológico. Onde há luta, há coroa”. São João de Cruz conclui: “Não fujas dos sofrimentos, porque neles está a tua saúde”. Quaresma é isso. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Professor do Seminário de Diamantina e da PUC – MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina – MG
Membro da Academia Marial – Aparecida – SP